sábado, 13 de outubro de 2012

Entrevista com: Cibele Baginski

                                                    Ozzy Osbourne, curtindo um solzinho.

Todo mundo dizia que a tal da Direita estava morta no Brasil, após levar sucessivas surras do PT e ser, em grande medida, desacreditada nos meios acadêmicos e populares. Muitas pessoas respiraram aliviadas e, após décadas na luta, se recostaram: Seria, afinal, o Século 21 o início de uma virada progressista no Brasil?
Mas eis que surge  uma estudante gaúcha, no alto de seus 22 anos, com piercing no lábio e muitas ideias na cabeça(sem falar no sensacional cabelo cor-de-fogo, que... bom, pensando bem, tá mais pra cosplay de Hayley Williams) disposta à acabar com a festa da esquerda festiva-vegetariana-sexualmente-liberada-atéia-que-anda-de-bicicleta-e-compra-tudo-orgânico.
Ela é ninguém menos que a fundadora da nova ARENA. ARENA? Não, não estamos falando de uma nova modalidade do UFC, e sim do velho partido, sim, aquele da década de 60 e 70, que metia medo em todo mundo e tem algumas acusações de desrespeito aos direitos humanos nas costas.
Talvez a palavra "fundadora" seja um exagero, pois para que ocorra a Volta dos Partidos Mortos-Vivos, Cibele precisa passar ainda por vários dos estágios da Kafkiana lei brasileira de criação de partidos. O objetivo de todo esse trabalho? Promover uma revolução conservadora no país, salvá-lo da comunização, resgatar os valores da família e do cristianismo, e... impedir a realização da Copa. Ou algo assim.
Mas quem é, afinal, Cibele Baginski? O que levou ela à escolher esse caminho, quando poderia estar fazendo algo mais digno e tipicamente gaúcho, como descascar e comer pinhão na varanda de casa? Do que ela gosta na vida?  Será que um comunista devorou seu irmãozinho quando era criança? A resposta dessas e outras perguntas você encontra... bom, não aqui. Aqui não é o Kibe Loco, pelo menos ainda não. Segue uma entrevista felizmente informativa e certamente recheada de insípida neutralidade jornalística, em que muitas perguntas serão respondids por essa polêmica personalidade dos anos 10.
(Na verdade, começei à fazer a entrevista ligeiramente depois de ela ficar bastante atarefada, então essa, com sorte, será apenas a primeira parte. Eu adicionarei o resto das perguntas quando forem respondidas.)
  
Literabyte: Olá Cibele, seja bem-vinda ao Pingue-Pongue do Literabyte. Você talvez fique feliz em saber que é nossa primeiríssima entrevistada. A poltrona é confortável? Quer um copo d´àgua? Brincadeira, é óbvio que não podemos ver um ao outro e eu não vou enganar os fiéis leitores do blog com uma piada tão simplória. Nós do Literabyte não compactuamos com humor pós-modernista. Enfim, começemos a entrevista em si, com uma pergunta óbvia que sem dúvida está tirando todos os meus 3 leitores do sono: Como você teve a ideia de, por assim, dizer, "refundar" o ARENA?

Cibele Baginski: Sempre tive algum envolvimento com algum tipo de política e a busca de formação e informação sobre esse assunto, é parte da cidadania. Não digo que temos que gostar de políticos, no Brasil ultimamente isso tem sido uma missão impossível praticamente, mas sim de política, temos que saber o que acontece e porquê nesse país, em um termo simples muito usado pelo meu pai "quero saber o que esses caras vão fazer pra ferrar a minha vida e escolher um menos infeliz na próxima eleição se precisar trocar", ser cidadão não é compactuar com um governo, é buscar saber o que acontece e participar no que for possível desse processo democrático. Fiz amigos na faculdade, fora dela, por ocasião de leituras, jogos, gostos e outras coisas pela internet e outros eventos, e no caso dos que encontram ideias parecidas em política, sempre mantivemos conversas sobre a situação no país. Há mais de um ano que tivemos a ideia de que seria necessário um partido de direita que pudesse ser representativo para equilibrar a democracia e trazer uma opção a muitas pessoas, mas entre conversas e experiências, não tinhamos certeza se iriamos mesmo fazer algo do tipo naquele tempo. E nesse ano, depois de conversarmos mais seriamente sobre o assunto do partido ser algo importante, decidimos fazer mesmo. Estudamos os estatutos dos outros partidos, como funcionam as coisas, como pudemos, a lei eleitoral e de partidos políticos, pra pensar em uma forma de fazer isso realmente dar certo e não recair nos mesmos vícios de muitas siglas por aí que se vê. Agora pra se dizer "refundar a ARENA" em sentido estrito mesmo, eu diria que foi uma coisa natural. Tinhamos a ideia, estávamos nos organizando, e temos realmente, assim como a antiga ARENA várias tendências de direita, somos literalmente aliados, e quando tivemos que fazer uma votação pelo nome e sigla do partido (porque a opção que tivemos em mente não poderia ser usada por haver sigla igual apesar de nome diferente), uma das fundadoras de Olinda deu essa sugestão, e não deu outra, essa opção foi majoritariamente escolhida. Acredito que a forma democrática com que escolhemos essa sigla foi algo que demarcou bem o perfil que temos, a liberdade plena de pensamento que está em falta nesse país e desejamos estender às pessoas com uma opção aos que não encontram uma sigla em que se sintam contemplados politicamente. Isso colocou-nos realmente onde devemos estar na política, tomando uma posição, demonstrando que não ficaremos encima do muro, pelo contrário, que traremos um diferencial para a política nacional.

LB: Interessante. Mas porque fundar(ou refundar) a ARENA?  Afinal, vários dos pontos que vocês defendem são também defendidos por siglas como o DEM. Não seria melhor se juntar à elas?
CB: O Brasil precisa de representação democrática de todas as vertentes, e o que se vê atualmente no cenário começa na esquerda-volver e vai até uma tímida centro-direita muitíssimo moderada, que chega por vezes de ter vergonha de se dizer de direita. A fundação deste partido vem para suprir a necessidade de representação de pessoas de direita que compreendem-se nesse momento completamente sem voz na democracia tão alardeada aos quatro ventos.
Há pontos programáticos defendidos por outras siglas, timidamente, ou apenas documentalmente, mas temos um viés próprio ao propor a representação forte da direita com orgulho disso, trazendo ao programa pontos consolidados entre as várias vertentes e permitindo uma maior liberdade de pensamento e ação dentro e fora do partido.
Se unir a uma sigla, como o DEM, citado na sua pergunta, seria algo adequado somente a quem tem algum viés ideológico de centro ou centro-esquerda, dependendo da região, e claro, que seja liberal. Nesse caso, creio ser melhor rever conceitos, porque direita não é sinônimo de liberalismo, às vezes, pode ser exatamente o contrário, vide conceitos da Revolução Francesa, algumas tendências anarco-capitalistas e outras. Além disso, se unir a outra sigla significa manter-se em meio a uma política que funciona do mesmo jeito (tanto faz a sigla, estatutariamente o funcionamento de praticamente todas é igual, com pequeníssimas variações, foi feito um estudo disso), recair nos mesmos vícios tão condenados na política e não ter a chance de mudar algo. As estruturas partidárias do Brasil foram feitas para não funcionarem, e por isso funcionam perfeitamente ao seu objetivo, não é o que pretendemos, então uma estrutura engessada como as que existem não é algo interessante. Pode ser mais fácil se unir a algo que já existe, claro, até porque realmente a lei brasileira tem todos os empecilhos possíveis para que pessoas comuns possam fundar uma sigla, é muito mais difícil este caminho, mas é o mais certo a nossas convicções, e não é impossível. Ao propor-se uma nova sigla, é evidente que tentar se unir a outras não é a intenção e nem mesmo funcionaria, este é um ato que denota a opinião de que nenhuma das siglas existentes representa adequadamente o pensamento que se quer exprimir na democracia.
 LB: Agora é o momento de polemizar. Uma pergunta que deixa a maioria dos partidos suando frio: Qual é o posicionamento da ARENA frente à atual política de cotas nas universidades?

Segundo o programa partidário, claramente, somos contra quaisquer tipos de cotas. O partido entende que todos os seres humanos devem ser igualmente valorizados, e isso é uma forma de preconceito, porque ninguém tem menos capacidades que outrem, e além disso, isso é uma estratégia do governo que demonstra a falta de estrutura no país para capacitar as pessoas, no ínterim da pergunta, a educação do país em bases tem que ser melhorada, para todos, e não se criar cotas para as pessoas menos abastadas para tapar o sol com a peneira, mas pro governo, sai mais barato dar cotas e deixar pessoas não qualificadas o suficiente, por sua culpa, se formarem, do que investir em qualidade de educação básica.
Em termos mais ideológicos, observa-se que além de essas políticas serem mais agressivas que o Apartheid da África do Sul (inclusive a mim comentado por um intercambista de mestrado que lá reside quando tocamos nesse assunto há alguns anos), esse tipo de política é nada mais que um novo tipo de classismo criado pela esquerda, atrito social e preconceito criado para tornar a sociedade caótica, desrespeito ao ser humano, à dignidade da pessoa humana, como tão alardeado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, entre outros diplomas legais e doutrinas.

LB: Então você estaria acusando a esquerda de querer provocar uma guerra de classes/ racial? 

Sim.
 Afinal, o que seria a esquerda sem o que eles chamam de 'burguesia'? A esquerda vive de atrito social, se as pessoas realmente tiverem um ambiente democrático e com oportunidades, não haverá mais nenhuma 'marcha dos oprimidos' para que eles possam oprimir mais ainda por ideais duvidosos. Um bom exemplo de como funciona essa sistemática é a obra literária 1984 de George Orwell, onde sempre é necessário haver uma guerra, um inimigo em comum para unir massas e manobrá-las ao bel prazer de um governo que preza pela ideologia do poder. É fácil observar este fenômeno no Brasil, já que estamos no governo dos então se tornaram uma burguesia nos termos de dialética de esquerda, porém, dada a quantidade de atritos sociais, não há a percepção da sociedade quanto a essa camada privilegiada de políticos. 
Talvez um exemplo mais moderno dessa situação em prática seria o que ocorreu no Paraguai, em que a velha história de que ser de esquerda é ser do contra, contra qualquer coisa, já que o procedimento de impeachment foi feito seguindo o rito constitucional (não me cabe dizer se justo ou não, não sou paraguaia - mas pelo menos dentro da legalidade), mas como os EUA foram favoráveis a esquerda foi contra alegando golpe, porém em contraponto, o regime ditatorial da Líbia enquanto aliado dos EUA era considerado terrível, porém ao haver uma comoção contrária por parte desta nação, considerada pela esquerda como imperialista, a Líbia passou a ser tratada, bem como Kadafi, como uma nação democrática sendo espoliada, ou coisa que o valha. Marx explica: Luta de Classes, e esse conceito é tão abrangente que pode ser aplicado a praticamente tudo. A esquerda cria atrito social dentro do Brasil porque a postura baseada em luta não faz sentido se não se tem qualquer coisa contra o que lutar, seja isso certo ou errado.
/EntrevistaOFF
E, por enquanto, pelo menos, é isso. De uns tempos para cá, Cibele ficou muito atarefada, ou talvez muito importante, para responder minhas perguntas. Mas eu preciso ressaltar que ela foi cortês, gentil e uma boa esportista durante toda a entrevista, e, espero, não desistirá de responder o resto das perguntaspor causa de uma ou duas comparações maldosas. Não, aquela pessoa lá em cima não é o Ozzy Osbourne, é ela mesmo.

Franco Alencastro está ficando sem ideias do que botar aqui.

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